quarta-feira, 2 de março de 2011

As pequenas mágicas que praticamos no cotidiano.

1.         HISTÓRICO DA MAGIA.

A magia em si é uma ciência oculta que estuda os segredos da natureza e sua relação com o homem, o que criou um conjunto de teorias e práticas que visam o desenvolvimento da parte oculta da mente humana, para que o homem possua assim o domínio total sobre si mesmo e sobre a natureza, ou seja, o que leva este a praticar a magia é a tentativa de conhecer os verdadeiros mistérios que essa possui.
Segundo Scott Counninghan:
Os verdadeiros mistérios da magia encontram-se na natureza e qualquer um pode descobrir ou conhecer seus segredos, bastando para isso sentir a natureza, a terra, o universo, que são na realidade os grandes iniciadores de tudo e são neles que devemos nos fixar de forma simples, sem dúvidas e perguntas para ver o que sempre esteve diante de nossos olhos o tempo todo.


É por isso talvez que o homem primitivo foi um dos primeiros conhecedores e por que não um dos primeiros manipuladores da magia, contudo não se diz respeito à magia aplicada com fórmulas, palavras de poder ou através de poções feitas dos mais ocultos ingredientes.

 
1.1      A magia na antiguidade.

O homem primitivo, conhecido como Homem de Cro-Magnon oriundo do Oeste da Europa e África do Norte a cerca de mil anos atrás, recebeu o nome de Homo sapiens, de origem do latim que quer dizer inteligente, esperto, sábio.
Com o passar de mais alguns anos, os estudiosos da pré-história resolveram que o homem pré-histórico ou primitivo deveria se chamar Homo-magus[1], pois o seu mundo era um mundo todo mágico, o que quer dizer que tudo possuía magia e sua religião era o xamanismo[2] ou curandeirismo. Então, as práticas mágicas estavam presentes principalmente no culto á caça, onde se desenhava a presa desejada na parede da caverna destinada, ou seja, prevendo os momentos da caçada ao animal.
Outra prática mágica muito utilizada era o culto á morte, no qual o homem primitivo vestia com peles de animais o morto e o colocava em uma pequena caverna ou gruta fechada com apenas um minúsculo orifício no teto por onde a alma passaria para retornar a natureza que seria o local de onde essa veio.
Com a descoberta da arte nas cavernas, conhecida hoje como arte rupestre, o homem primitivo não descobriu somente um modo de retratar a realidade ou de aprisionar a alma de algo desejado, porém, descobriu também um mundo de símbolos que expandiu seu mundo não somente em imagens mais também em sons. Então, o Homem-magus (Homo sapiens) aprendeu a ouvir a natureza e criou os símbolos sonoros transformados em palavras.
O homem primitivo tinha a mente como a de uma criança, a qual a mentalidade é animista, isto é, tudo possui um espírito e esse está muito ligado á natureza e assim seu curandeiro ou xamã opera com símbolos, o que para o homem seria a magia da palavra e a magia da figura a qual se caracterizava por meio de fazer coisas ou de produzir efeitos ditos mágicos.
Mas porque utilizar símbolos na magia? Ora, o simbolismo é a linguagem da magia e da mente, ou seja, é como se os símbolos fossem umas espécies de escrita mágica, apesar de estes terem seus próprios significados passam a ser reelaborados quando relacionados e empregados à magia.
A magia natural é objetiva e clara, o homem utiliza a natureza para conseguir o que deseja e apesar de a magia ser classificada como uma ciência oculta como foi dito, essa não pode ser considerada sobrenatural natural ou mesmo alienígena, pois é uma ciência própria do homem.
A magia é a própria pureza dos elementos naturais como: a terra, o fogo, a água, o ar e todo o tipo de elemento oriundo das mais profundas entranhas da terra e modificado pelo homem no decorrer de seu conhecimento e sua evolução.
Foi também na pré-história que o Homo-magus que vivia magicamente relacionado com a natureza ou o meio ambiente fez de sua religião, o xamanismo, em magia aplicada, isto é, praticavam um tipo de ciência natural e o principal resultado dessa ciência mágica foi à descoberta da magia da palavra e a evolução dos símbolos sonoros que formaram a linguagem e que depois deu origem a diversos tipos de escrita de vários povos, com o passar dos anos o homem primitivo passou a ser Homo-magus artifex[3], um homem mágico, porém já artístico.
É importante ressaltar que com o passar de todos esses anos, o homem evoluiu de caçador para lavrador e criador de animais, agora o homem começa a pensar em formar um grupo menor denominado como família, passa a se alimentar por meio do que planta e dos animais que cria; logo, com essas grandes transformações a que o planeta passou e o homem também, esse aprendeu a construir suas moradias e suas armas que antes rústicas agora ganham mais atenção.

 
1.2      A magia na sociedade egípcia.

Assim como na pré-história, os egípcios também acreditavam muito na magia natural e atribuíam outros elementos já que a civilização egípcia se originou desse mesmo Homo-magus, eles já possuíam uma concepção própria de alma e a crença em Ka[4] como a força criativa do homem, ou seja, era tanto a inteligência, quanto a potência sexual, o que nos faz entender que Ka para os egípcios é uma força divina vital e cósmica como se fosse a própria vitalidade personificada ou ainda, a potência física e mental do homem.
No Egito, como na pré-história, os sábios mais conhecidos como reis-sacerdotes possuíam agora um lugar específico para morar e assim fazer contato ou sondar as coisas, seriam as famosas pirâmides, tipos de construção onde, o material também era retirado da natureza e alterado em forma de blocos para assim serem organizados e a arquitetura enfim poderia ser terminada.
As pirâmides também eram utilizadas como túmulo para os faraós, de modo que seu corpo e seus bens fossem resguardados para a viagem que faria para a outra vida, dessa forma, tudo o que ouvimos sobre o culto religioso egípcio também ser um culto totêmico, é destinado aos conhecimentos criativos extraídos do cosmo.
Com o passar dos tempos, Heródoto (490-425 a.c) descreveu em alguns de seus estudos que:                                                                            
“(...) As pirâmides não seriam apenas túmulos, porém imensas centrais mágicas realizadas pelos sacerdotes que acompanhavam o corpo dos faraós de modo que o Ka desse continuasse fazendo a ligação entre corpo e alma definida como Ba, mesmo depois de morto.’
.
O Egito pode ser definido como um grande centro de magia e de práticas mágicas, pois forma os mágicos que fundaram no país a astrologia e uma música numérica e predizia o futuro pelos astros, o que pode confirmar que o Egito foi também um grande centro de observação do cosmo.
Esses mágicos davam atenção primordial aos sonhos, e desenvolveram um tipo de interpretação a esses sonhos, por isso ‘O Livro dos Mortos’ egípcio nos conta tudo acerca do mundo inferior que também é dito como um sonho transcrito em forma de livro, nele estão descritas as práticas da magia pictórica, ou a magia negra, destinada para criar malefícios ou causar a morte de algum indivíduo, está contido também no livro a magia da palavra e suas fórmulas encantatórias correspondentes.
A forma como a morte é lida e pensada no Egito indica para nós a maneira mágica de pensar, porém esse conhecimento é somente preliminar dos conceitos mágicos, ou seja, não nos contam nem a metade das práticas e das magias feitas a partir de lendas extraídas de mitos de deuses e deusas.
Acreditava-se muito no ‘caminho dinástico da morte’ que era cheio de detalhes como: cobrir o sarcófago de papiros com fórmulas conjuratórias que o morto leva a fim de parlamentar com os juízes fúnebres, fórmulas encantadas para defender-se de inimigos vivos, a predição por meio dos astros, a interpretação de sonhos já citados antes, a confecção de amuletos fazem parte da magia popular que caracterizou os últimos séculos de civilização egípcia, assim como ‘O Livro dos Mortos’ também já citado.
Outro mistério em relação ao uso da magia são as pirâmides com a função não só de abrigar os faraós mortos considerados filhos do deus sol (Ra) maiores captadores de energias cósmicas, por isso sua verdadeira origem ainda é muito discutida entre os historiadores.
A pirâmide de Quéops, por exemplo, intriga devido à mesma ter a idade de cinco a seis mil anos, ela abriga os segredos e conhecimentos sobre processos cósmicos e sobre a natureza do universo, pois, multiplicando por um bilhão a altura da pirâmide, teremos exatamente à distância da terra para o sol, correta até as últimas frações.
As dimensões dão o cálculo exato de um ano solar, as variações da duração de dia e noite, á distância de um meridiano e o peso da terra, também está posicionada no sentido norte-sul e ela é capaz de indicar a posição do pólo norte com mais precisão que o observatório de Paris e ainda tem o perímetro de sua base que dividido pelo dobro da altura, dá o número 3,14 o qual é considerado um número mágico e só foi descoberto e calculado em 1596 pelo matemático Ludolf Von Caulen.
Não se sabe como os faraós e os mágicos chegaram a essas informações e conhecimento em um tempo onde, a tecnologia não se fazia presente para que números e cálculos fossem descobertos e calculados de modos tão precisos, porém poderia ser apenas uma técnica mágica muito bem aplicada, pois as pirâmides não possuem suportes para tochas e muito menos as paredes registram marcas feitas pelo calor do fogo. Então, os mágicos teriam o conhecimento da energia, eletricidade ou outro tipo de técnica? É impossível responder, pois no Egito não foi encontrado nenhum documento, diário ou papiro referido a técnicas aprendidas e muito menos relatos sobre magias realizadas em relação á construção e outros com exceção as especulações sobre as pirâmides já citadas.
Os sacerdotes egípcios colocavam seus conhecimentos técnicos em favor da religião para honrar as divindades e assim ganhavam a admiração do povo para que esses acreditassem no divino poder do faraó. De tal modo, o povo via fatos e feitos maravilhosos em festividades religiosas sendo que os truques técnicos mágicos permaneciam em segredo e o iniciado a sacerdote que revelava os segredos era punido com a morte.
Ao contrário do que se possa pensar, nessas técnicas não havia nem um pouco de magia natural da qual estamos nos referindo e sim truques e manobras que qualquer mágico faria com o objetivo de explorar a crendice das
pessoas, e como também não existia diferença entre religião, ciência, arte e magia, tudo era esplêndido e sobrenatural.

 
2.3   A magia na Idade Média.

Com o passar dos tempos á magia foi caracterizada como práticas de bruxaria e feitiçaria que eram realizadas de forma individualizada, ou seja, as práticas mágicas tornaram-se um aprendizado e uma ciência de difícil acesso e duros princípios éticos, de modo que um leigo jamais poderia ter acesso, isso se dá também pelo próprio conhecimento do mago, pois, na maior parte das vezes o mago também é astrólogo, o que facilita que esse possa escapar de especulações vindas da justiça eclesiástica oriunda da mentalidade cristã que começava a ganhar força na sociedade. Sendo assim, todo o tipo de prática mágica encontrada era investigada, principalmente as que faziam uso de instrumentos naturais ou não, para a manipulação de algo desejado pelo homem era tido como um ato herético[5].
Com o fortalecimento do Cristianismo e a concretização da mesma como religião oficial do oriente, a exemplo de Roma e no ocidente, todas as práticas não-cristãs, principalmente as ligada á magia foram consideradas e julgadas como ato de bruxaria e feitiçaria, acreditava-se que os rituais com o uso de elementos mágicos ou próprios da natureza eram na verdade práticas demoníacas.
De acordo com os líderes da igreja, decretado pelos autos inquisidores, uma comissão que formava o Tribunal do Santo Ofício que bruxas e feiticeiras eram malfeitoras e grandes conhecedoras de magia pictórica, ou magia negra, usada para fazer mal a algum indivíduo, essas mulheres foram consideradas hereges e foram injustamente caçadas mais não apenas estas, porém toda pessoa não convertida ao cristianismo e envolvida com práticas mágicas foram torturadas e queimadas em praça pública para servirem de exemplo a população.
Fatos históricos nos levam a comprovar que a maior parte das mulheres caçadas pelo Tribunal do Santo Ofício[6] não possuíam ligação nenhuma com magia e suas práticas, deixando claro que o que ocorreu na verdade foi o maior massacre já documentado em toda a história do Cristianismo durante a idade média.
Nesse período, o homem ainda vivia do trabalho no campo e as mulheres eram as principais responsáveis pela casa, pela família e alguns afazeres na colheita, as mesmas adoravam a divindade feminina considerada a religião da deusa[7], também conhecida como Gaia, a natureza como a fonte criadora de tudo o que existe.
Buscando descartar toda e qualquer hipótese quanto sua origem Gnóstica[8], o Cristianismo organizou a maior destruição de bibliotecas de caráter místico, acarretando na redução de cinzas os mais antigos textos da era pré-cristã, a não serem os poucos de magia e ocultismo colocados sobre a guarda de pessoas de confiança dessas bibliotecas.
Seria o mesmo que um insulto para o clero que o cristianismo tivesse realmente a mesma origem histórica dos magos, místicos, feiticeiros, bruxos, estudiosos e outros que buscavam na magia a saída para a solução de seus problemas cotidianos.
As magias populares praticadas a partir da confecção de amuletos foram terminantemente proibidas pela ação da igreja, porém não foram exterminadas por completo principalmente com a chegada do Renascimento quase no final da idade média, trouxe a margem da sociedade novas idéias, mas o homem ainda mantinha o seu pensamento mágico em relação á natureza, seus mistérios desconhecidos para ele.
A magia nesse período ganhou três ramos distintos adaptados ás novas relações mentais do homem, são elas: a magia natural (magia dos sábios), a magia branca (quando se ocupa do bem), a magia negra ou pictórica (destinada a fazer o mal).
Com essa estruturação, a magia é delimitada das práticas mágicas, passando a ser tratada como “arte mágica” distinta das práticas diabólicas, ou seja, essas práticas passam a ser parte importante nos estudos e pesquisas desenvolvidas pelos sábios que fazem uso das ciências ocultas e alta magia para o desenvolvimento humano, do humanismo em si e da introdução da cultura antiga no imaginário europeu.
Podemos afirmar aqui de forma segura que a necessidade coletiva é o que está por trás do mago, o qual encarna as exigências da coletividade e por isso é aceito e acreditado como eficaz, pois é o representante e o agente da vontade coletiva, ou seja, o mago nada mais é que a criação do ambiente, da sugestão coletiva.
Assim, a magia parece estar ligada a uma concepção dramática da natureza onde, o mago não atua por fenômenos sobrenaturais, mas intervém na ordem natural por conhecimentos de segredos e práticas ocultas.


 2.4      A magia na atualidade.
         
A magia nos dias de hoje recebeu o caráter de magia moderna devido a sua forte presença na sociedade, seja nas ruas, na televisão, nos consultórios urbanos ou nas casas situadas na cidade, a questão é que as pessoas estão mais conscientes da magia no cotidiano e utiliza essa como um meio de fuga da realidade.
Para o senso comum esses fatos são simples crendices ou superstições, praticadas sem maiores conseqüências para a pessoa que realiza, porém, a que recebe o benefício mágico trazido pelo ato realizado pode ficar obcecado cada vez mais por uma saída rápida dos seus problemas por meio da magia.
Novas técnicas divinatórias foram incorporadas a magia, o que ocasionou a criação de vários consultórios, todos voltados para a predição do futuro dos clientes que buscam uma resposta mágica para os seus problemas, ou seja, a magia hoje é visada como uma arte onde tudo é possível inclusive o domínio da vida das pessoas que tenham relação ou não com essas práticas.
As artes divinatórias[9] sempre tiveram relação importante com a religiosidade o que ajudou a configurar um complexo sistema classificatório de crenças e práticas, as quais até então não tinham sido definidas como certo tipo de arte em si.
Com o avanço da modernidade, a magia encontrou um novo meio de se infiltrar na vida das pessoas e esse meio é através dos veículos de comunicação, a exemplo da televisão onde, as pessoas estão sempre buscando desmistificar[10] mitos, porém sempre dando ênfase em outras áreas do conhecimento, como o uso constante de técnicas orientais vindas da China antiga, como o Feng Chuí que é utilizado a priori para energização de ambientes.
Essa técnica atribui ao uso correto de cores nas paredes, a quantidade de móveis e objetos decorativos necessários para deixar um ambiente aconchegante sem perder a simplicidade, a sofisticação necessária e a tranqüilidade. Logo, todo o tipo de método que se utiliza do uso ou da concentração de energia dos objetos também é considerado um modo de magia, já que a mesma busca em sua forma mais simples o conhecimento da natureza por meio do mago, feiticeiro, bruxo que também é considerado o agente responsável por manter firme a teia existente entre o homem e o “mundo mágico” que a ciência tão sabiamente definiu como misticismo, fantasia ou simples superstição.
          Para Silas Guerreiro:
(...) Não basta um gesto, uma palavra ou a manipulação técnica da natureza para que a magia se realize. É importante que haja um pensamento mágico compartilhado entre os membros da sociedade; em outras palavras, a magia, para ser eficaz, necessita de uma crença coletiva, já que um ritual de magia não se compõe somente pelos objetos manipulados, pelas técnicas empregadas pelo mago, pelas evocações através de palavras específicas ou pelo comportamento das pessoas envolvidas. É preciso, para que se torne efetivamente um ato mágico, que esse ritual esteja ligado a mitos, pois, somente o mito é suficiente para que se faça presente a eficácia da magia; então, os gestos, palavras, procedimentos e materiais utilizados são necessários também porque esses fazem parte do ritual mágico que por  estar envolvido num sistema de crenças mais amplo torna esses elementos dotados de um poder incomum.
  

A verdade é que em pleno séc.XXI, a magia continua sendo um dos meios mais utilizados pelas pessoas a fim de conseguirem enfim algum tipo de benefício próprio, porém mágica por mágica não dá em nada, é preciso conhecer profundamente com o que se está utilizando, ou seja, é importante ao menos ter a participação de uma pessoa com mais experiência.
          Nos consultórios populares, encontrados desde ruas de classe alta onde, a clientela com certeza é de bom nível social, até as periferias saturadas de pessoas sem recursos que usam a magia como principal meio de melhorar a vida de modo rápido, preciso e pouco infalível.
          Hoje existe até mesmo algum certo tipo de marketing, um preparo específico é dado para as pessoas que trabalham na divulgação das pessoas que atuam no mercado pelo ramo da magia, ora aplicando técnicas orientais para o bem estar das pessoas, ora utilizando simples objetos como: pedras semipreciosas, gravetos, espelhos, velas, cordas, facas, agulhas, tecidos, copos, sementes de frutas e outros; todos dotados de poder mágico.
          Alguns objetos passam a serem visados como verdadeiros totens[11] como é o caso da famosa “bola de cristal”, objeto mágico capaz de prever o futuro do consulente ainda que esse não tenha feito nenhum tipo de pergunta ao objeto. Sabe-se que esse objeto, tão maravilhoso não passa de uma bola de vidro que reflete a imagem do mago e do consulente devido uma lei da física sobre refração.
          Esse objeto só recebeu o caráter mágico porque o mago assim o fez, ou seja, se o mesmo se diz ser capaz de prever coisas naquele objeto e ninguém mais é capaz de prever e ainda se o feito da predição do mago se realizar esse ganhará o reconhecimento das pessoas e logo se tornará referência na arte divinatória de que vinha falando momentos atrás antes de buscar os elementos mágicos no cotidiano partindo da idéia do Silas Guerreiro (2003).
          Uma pessoa comum dotada de curiosidade pode ser considerada um pouco de mago também, mesmo porque todos nós um dia já brincamos de sermos donos do tempo, ora quem nunca fez ou viu um amigo (a) por uma boneca atrás da porta para fazer a chuva parar de cair ou prendeu a mesma em um copo sobre um pires com uma pitada de sal em cima só para amenizar a mesma? Com certeza alguém já passou por isso.
          Em Belém, mais especificamente no bairro do Telégrafo é comum perceber crianças brincando pelas ruas e ao menor sinal de chuva, usam a imaginação e rabiscam no chão com giz, carvão, ou tijolo de construção um sol bem grande e bonito para que as nuvens de chuva ao verem o astro tão grande e bonito fiquem “amedrontadas”, e assim vá embora depressa para a brincadeira continuar.
          Essa pequena atitude típica de criança revela muito do lado mágico que o homem trás dentro de si, e que acaba por ocultar devida sua mente trabalhar de acordo com o conhecimento que esse adquire ao longo de sua vida, o dito conhecimento científico[12] que o leva a refletir e a pensar sobre cada fato que acontece em sua vida.
          O outro conhecimento, aquele que o homem trás consigo é o empírico[13], esse é dotado de conhecimento popular, de crendices, de mitos, de fantasias e por que não sabedoria popular aquela que é repassada nas famílias de geração a geração. É óbvio também que esse tipo de magia só resiste ainda em nossa sociedade tão voltada para o progresso da ciência, graças às pessoas mais velhas as quais preservam o seu conhecimento e repassam para as crianças, os jovens e mesmo os adultos, poucos embarcam nesse universo de magia e crendice.
                   Em toda a cidade é perceptível e quase respirável a magia presente no ar, seja em uma caminhada pela feira do ver-o-peso, ou ainda pela venda de produtos religiosos em frente à basílica de Nossa Senhora de Nazaré, ou nas oferendas feitas pelos umbandistas encontradas nas esquinas como um pedido de proteção ao mesmo ou simples agradecimento por um desejo alcançado entre outros, ao uso de magia nos consultórios urbanos espalhados pela cidade em bairros específicos e as práticas mágicas da população baseado apenas no conhecimento adquirido por meio de uma pessoa com mais experiência.
          A magia está em todos os lugares e isso foi provado aqui por meio do apanhado histórico desenrolado desde a pré-história, passando pelo Egito onde, o homem aderiu para si vários tipos de conhecimento e começou a colocar em prática, na idade média quando essas mesmas práticas passaram a ser uma atitude reprovada pela preservação da moral, vindo direto para a modernidade onde, a magia ganhou novas ramificações e passou a ser transmitida como uma arte, a arte divinatória que só é possível por meio do pensamento mágico coletivo de um grupo ou da sociedade de modo geral.   

         

2.         A MAGIA DIFUSA.

Ao longo de milhares de anos, passamos a habitar em um mundo secularizado, no qual a ciência passou a triunfar exuberantemente com todo seu aparato tecnológico, o chamado fenômeno da industrialização. No qual os homens se tornam inventores de mundos, de si mesmos. Constroem-se casas, palácios, alguns instrumentos como: tambores, flautas e harpas.
Presenciamos através de pesquisas e estudos, praticados pelo homem nos dias atuais a preocupação do mesmo em relatar detalhadamente os costumes praticados, nas civilizações consideradas primitivas, pelo mundo todo. Claro que essas civilizações são consideradas assim, não por serem populações antigas mais por manterem vivas tradições e rituais que valorizam a identidade de um povo.
Com o exemplo, citemos algumas tribos africanas, pessoas que transformam seus corpos revestindo-os com tintas, plumas, pedras preciosas e semipreciosas, sangue de animais (dependendo do ritual que se esteja desempenhando) e tecidos das mais variadas estirpes.                
Contudo, em meio a todo esse advento da modernidade, e no exterior dos círculos acadêmicos, de forma intensa entre aqueles que pretendem já haver passado um dia pela iluminação científica, ainda assim, encontramos homens comuns que acreditam que é em meio à natureza e que é se utilizando dela que encontramos respostas e caminhos mais apropriados em busca da satisfação se não de todas as nossas interrogações, mas de uma grande parte dela.

2.1      A natureza das coisas.

É em meio a esse universo encantado, de milagres, aparições, mágicas, visões e experiências místicas, que o ser humano utiliza elementos da natureza dotados de poderes sobrenaturais, ou seja, que não são passíveis de explicações pela ciência, para satisfazer seus demasiados anseios provocados pelo caos cotidiano e por tudo aquilo que lhe é desconhecido.
Cabe aqui, explicar que a ciência é um fenômeno experimental que esta sempre numa constante busca de leis naturais para explicar os mais variados tipos de acontecimentos, cuja resposta encontra-se através de vias dotadas de objetividades, ou seja, acredita-se apenas naquilo que se pode explicar e comprovar através de experimentos.
 Enquanto isso, os elementos mágicos estão muita das vezes, ligados ao fenômeno religioso, possuem estes um caráter subjetivo, íntimo, pertencente ao ser humano, tornando-se verdadeiro a partir do momento em que o homem passa a crer, a ter fé de que algo esta acontecendo.
Portanto, é necessário que se saiba, que todo e qualquer fenômeno mágico só tem significado a partir do momento que passamos a acreditar que o que vemos e ouvimos é passivo de veracidade. Não adianta pedir solução a determinado oráculo, ou utilizar qualquer elemento presente na natureza para saber o que ira acontecer, se a pessoa não acredita que realmente algo esta acontecendo.
Toda a natureza é dotada de certa espiritualidade, pois, possui uma visão animista, um certo tipo de “alma” que se sobrepõe à matéria, assim uma pedra não vai deixar de ser uma pedra por que essa é a sua natureza, porém pode ser considerado um elemento mágico na medida em que a necessidade do homem se faz presente na vida cotidiana do mesmo, seja relacionado à questão da saúde, á vida pessoal ou até mesmo profissional.
Utilizando-se ainda do exemplo acima, todos sabem que o elemento pedra é algo visível, concreto e que nada tem de mágico. Porém, no momento em que alguém lhe confere o nome de altar essa passa a ser circundada por uma aura misteriosa, e os olhos da fé podem vislumbrar conexões invisíveis que a ligam ao mundo do sobrenatural.
Rubem Alves nos explica que determinado elemento passa a adquirir um novo significado no momento em que o homem lhe confere tal função, antes tínhamos apenas um elemento que encontramos em qualquer rua ou avenida do mundo inteiro, agora temos um altar que aos olhos da fé realiza milagres e trás a esperança de provir melhores e a qual se fazem orações e se oferecem sacrifícios.
É válido ressaltar que no mundo dos homens, de acordo com Emille Durkheim, nos deparamos com dois tipos de coisa: as coisas que significam outras e as coisas que não significam outras.
As coisas que significam outras seriam aquelas tidas como representações simbólicas. No caso, uma aliança pode significar um compromisso tal como o enlace conjugal; uma cédula pode representar uma quantia; um beijo demonstração de afeto.
Leva-se em consideração que qualquer pessoa pode usar uma aliança na mão esquerda sem ser casada. Uma cédula pode ser falsa. E o beijo pode ser destituído de sentimento. Porém, quando nos deparamos com esses tipos de coisas que podem significar outras se torna imprescindível que nos façamos perguntas quanto à autenticidade ou não dessas coisas.
Existem, também, as coisas que podem não significar outras, são sempre elas mesmas, não precisam de sentidos que apontem a determinado fato. Como exemplo temos o fogo que nada significa a não ser a si mesmo, este tem a função de iluminar, queimar, aquecer. Perguntar se ele é verdadeiro não faz sentido.
Uma árvore como toda e qualquer árvore que já possamos ter visto nos jardins e quintais das casas, nada tem de significativo, não faz sentido levantarmos questões acerca de sua veracidade, podemos apenas perguntar se ela é grande, bela e se rende bons frutos. Assim se faz com todas as coisas que não significam outras.
Já as coisas que nada significam podem ser transformadas em representações simbólicas de coisas que estão ausentes ou que são abstratas, ou seja, que não pertencem à realidade. O fogo se transforma em símbolo nas olimpíadas, as flores podem significar saudade se jogadas em cima de uma sepultura, um anel de formatura representa o casamento com uma profissão, um vestido de noiva demonstra pureza e a cor vermelha pode ser tida como significado de paixão.
Com isso as coisas que nada significam podem passar a significar por meio de um único artifício: basta que sobre elas escrevamos algo, como fazem os casais de namorados que gravam seus nomes nas cascas das árvores a fim de perpetuarem o inestimável amor que sentem um pelo outro.
Temos ainda como exemplo, os seres humanos que acreditando em sua própria importância, mandam colocar placas comemorativas com seus nomes em letras grandes sobre os monumentos, pirâmides e viadutos que mandam construir.
Por fim, cada elemento na natureza, esteja ele presente ou ausente, sendo abstrato ou concreto, não perde sua característica dentro do espaço que vivenciamos, este passa apenas, a ganhar uma nova roupagem, um novo significado a partir do imaginário humano. Logo, determinado elemento passa a ser visto de uma maneira diferenciada dentro da sociedade.

 
3.2 A transubstanciação dos elementos mágicos.

Ao longo dos anos se pararmos para estudar os seres humanos e os animais, nós notaremos que há uma grande diferença entre eles. Os primeiros procuram adaptar a natureza ao seu modo de vida enquanto que os segundos seu modo de vida a natureza. A seguir mostraremos mais especificamente como se processa a relação entre estes seres que habitam o universo.
Em primeiro lugar temos os animais que conseguiram sobreviver ao longo de décadas por meio da adaptação física. Sempre com suas garras e dentes afiados, sua capacidade incrível de se confundir com cascos de arvores e com as folhagens, a verdadeira camuflação[14], sua ligeireza em cavar, correr e saltar, além de uma habilidade imensurável na hora de buscar alimento para a sua manutenção.
Todos esses, são exemplos de como o animal possui seu corpo perfeitamente adaptado à natureza, e o mais importante é saber que toda essa sabedoria para a sobrevivência é relativamente repassada de geração em geração, a milhares de anos, de uma maneira que não requer palavras, nem mestres.
Seu corpo produz sempre a mesma coisa. Sua estrutura é completa, fechada e perfeita. Estes não possuem problemas a serem respondidos, portanto não sentem a necessidade de que novas coisas venham a ser inventada, pois sua vida se processa num mundo estruturalmente fechado.
Em segundo lugar, temos o homem que diferentemente dos animais vive em comunidade, um corpo social no quais grupos de pessoas estão submetidos a uma mesma regra. Esses tendem a transformar seus corpos, de entidades da natureza em criações de um complexo padrão de comportamento, crenças, instituições, manifestações artísticas e intelectuais que são transmitidas coletivamente e a qual recebe o nome de cultura.
Deve-se levar em consideração que o ser humano é um ser racional, ser de pensamento, dotado de desejo que provém da privação de algo, da ausência de determinada coisa. A exemplo podemos dizer que certo individuo jamais sentirá vontade de se alimentar estando de estômago cheio e que a saudade só aparece na distância quando não se tem a pessoa amada por perto. A dor só bate a porta quando nos tiram ou sentimos a falta de algo ou de alguém. 
Aqui a cultura surge como uma forma de realização dos desejos produzidos pelos homens, tentativa de fazer com que este encontre prazer naquilo em que o espaço e o tempo presente lhes oferecem. Dessa maneira, o homem faz cultura a fim de tentar se encontrar num mundo em que a vida faça sentido, que esteja em harmonia com os valores do homem que o constrói, que seja espelho, espaço amigo e lar.
Faz-se necessário saber que nem sempre a cultura tem seus objetivos alcançados e é no ponto em que essa fracassa que o ser humano transfere os objetos de seus desejos para a esfera dos símbolos, representações e substituições das coisas que estão ausentes, das coisas que ainda não nasceram.
Em meio a esse contexto, a magia surge como uma rede simbólica que busca satisfazer as necessidades humanas abrindo para estes novos horizontes e maiores expectativas em relação ao presente e ao futuro da humanidade. Esta se torna a mais pretensiosa tentativa de transubstanciar à natureza, uma das formas mais utilizadas pelo homem de tentar se apropriar da natureza a fim de manipulá-la, controlá-la e forçá-la a se submeter ás suas intenções de forma a suprir os seus desejos e interrogações.
De tal forma a transubstanciação dos elementos mágicos se detém em da nomenclatura as coisas que estão ao nosso redor fazendo com que o mais simplório objeto passe a ter um valor especialmente mágico e simbólico.
É no momento em que o homem faz uso da magia que esse transmite significado aos objetos, de modo que estes passam a habitar um mundo encantado. Todavia, descobrimos que a transformação se processa no instante em que a linguagem referente às coisas passa para além de nossa percepção.
As invisíveis que estão para além dos nossos sentidos comuns só são passíveis de explicação aos olhos da fé. Como exemplo, temos:
O pão, como qualquer pão, e o vinho, como qualquer vinho, poderiam ser usados numa refeição ou orgia: materiais profanos, inteiramente. Deles não sobe nenhum odor sagrado. Mas quando as palavras são pronunciadas – “Este é o meu corpo, este é o meu sangue...” – os objetos visíveis adquirem uma dimensão nova, passam a ser sinais de realidades invisíveis (Rubem Alves, 2000).

O pão e o vinho são dois elementos de fácil acesso pelo homem, que o utiliza no dia-a-dia, em festas e ate dentro de casa como meio de alimentação. É do conhecimento de todos que esses elementos nada têm de sagrado, de sobrenatural, mas, a partir do momento em que o homem lhe confere significado, estes passam a serem considerados elementos capazes de operar milagres, sendo utilizados muitas das vezes em rituais e oferendas religiosas.
Podemos citar também, a água que é cristalina, fria e gostosa, que serve para matar a sede, lavar louça, tomar banho, entre outros afazeres, esta é apenas um composto formado pela fórmula H2O cuja função é essencial para a vida das espécies que habitam o planeta terra. Nada tem de sobrenatural, porém a partir do momento em que o homem lhe profere algumas palavras, essa passa a ser utilizada como um elemento de grande importância nos cultos e rituais de diversas vertentes religiosas.
No momento em que o homem lhe confere plausibilidade, a água passa a ser utilizada em batismos, na benzeção de casas e demais lugares a fim de afastar pensamentos negativos, esta é também utilizada como elemento de purificação por algumas religiões tais como o Islamismo.  
Contudo, sempre nos perguntamos como é que se processa a magia, a forma pela qual essa ganha eficácia dentro da esfera simbólica? Bom, levemos em consideração uma prática simbólica que é realizada e compartilhada constantemente pelo ser humano. De tanto ser usada e repetida com sucesso a base ou não de fórmulas, a magia enquanto símbolo passa a ser reificada[15], ou seja, esta passa a ser tratada como se fosse uma coisa.
Davide Hume nos explica que à medida que os símbolos passam a ganhar densidade, concretude e onipresença, estes possibilitam que o mundo do invisível esteja cada vez mais próximo e tenha mais sentido que as próprias realidades materiais que nos circundam.
Todos os símbolos que são usados com sucesso deixam de serem hipóteses do imaginário humano e passam a serem tratados como manifestações da realidade. Certos símbolos derivam seu sucesso de seu poder para congregar os homens, que o usam para definir sua situação e articular um projeto comum de vida, enquanto que outros se impõem como vitoriosos por seu poder para resolver problemas práticos.
Assim, detém-se que os homens não vivem só de bens materiais estes vivem também, de símbolos, porque sem eles não haveria ordem, nem sentido para a vida, nem vontade de viver. Aqueles que habitam um mundo ordenado e carregado de sentido gozam de um senso de ordem interna, integração, unidade e se sentem efetivamente mais fortes para viver (Durkheim).
 Por fim, os símbolos desde sempre possuem uma espécie de poder e efetividade que fazem com que a imaginação colabore para a sobrevivência da espécie humana.

 
3.3   As práticas mágicas como coletivo.

Quando falamos em magia diretamente estamos nos referindo a um ato de controle exercido por parte de algum especialista nesta arte, cuja finalidade é a de intervir na ordem geral da natureza. A intenção desta esta voltada para a satisfação de alguma necessidade, daquilo que se esta ausente ou que ainda não se conhece sempre de maneira a dar soluções se não imediatas, mas em curto prazo.
O senso comum sempre direciona o pensamento referente á magia a algum tipo de bruxaria, feitiçaria ou a qualquer outra forma como, por exemplo, a magia negra que tem como intenção fazer o mal a certo individuo, ao contrário desta existe também, magia branca que se volta sempre para a pratica do bem. Aqui a magia precisa sempre de uma formação específica assim como uma especialização no ramo de tarefas que são restritas a alguns iniciados.
Diferentemente da magia tal como muitos a conhecem, nos deparamos hoje com uma forma bem mais simples e que não precisa de nenhuma iniciação ou formação específica, seria esta um tipo de magia que praticamos corriqueiramente no cotidiano de forma espontânea, sem muita consciência disso e a qual Silas Guerreiro denomina de magia difusa.
A magia difusa é praticada por muitos indivíduos em nossa sociedade, muitas das vezes através de gestos e atitudes que fazemos sem nos darmos conta. Esta é sempre repassada de forma informal de geração em geração, geralmente por meio de conversas. Para que sua eficácia seja alcançada é preciso que esta se espalhe por entre as multidões como uma corrente.
Como exemplos podemos falar sobre fatos ocorridos nas cidades, nos lugares mais afastados dos centros, em meio a pessoas de classes médias. Pergunto aqui, quem nunca reparou que em algumas casas encontram-se colocadas encima dos relógios medidores de consumo de energia uma garrafa plástica cheia de água, alguns se perguntam para que sirva tal ato? É bem fácil de responder. Acredita-se há tempos que com tal prática poderíamos reduzir o consumo de energia.
Podemos também nos referir ao torcedor que comparece, em dias de jogos, a um estádio sempre com uma mesma camisa, pois do contrário seu time correrá o risco de perder, ou de um aluno que ao realizar uma prova de vestibular necessariamente precisa estar com um terço na mão.
Os exemplos especificados acima são típicos de magia que se pressupõe existir uma ligação entre duas coisas fisicamente diferentes, afirma o antropólogo Silas Guerreiro, no caso temos a ligação entre a camisa e o desempenho de um time de futebol noutro o terço e a boa avaliação em determinada prova.
Outro exemplo interessante é o caso do espelho. Esse tal como nós o conhecemos é colocado na entrada da casa. Acredita-se que o elemento especificado, a partir do imaginário humano é capaz de afugentar as coisas ruins tais como a inveja, o mau olhado, o pessimismo, entre outros aspectos.
Essas e outras práticas que realizamos diariamente sem muita técnica são comumente consideradas por muitos como simples crendices ou superstições. Vale lembrar, que nem todas as pessoas que praticam tais atos são totalmente crédulas dos princípios gerais da magia, mas é quando estas se sentem necessitadas e buscam resolver algum problema que o pensamento de que “quem sabe da certo; não custa nada tentar”; vem a mente.
Segundo Silas Guerreiro,
A magia é utilizada em várias situações, não apenas em momentos de ausência de técnicas eficazes para lidar com a natureza, mas como uma das maneiras criadas pelos seres humanos de enfrentar o imponderável, as vicissitudes e as dificuldades. Procurando por assim, tornar a vida não apenas possível de ser vivida, mas também melhor e mais alegre.

Podemos por assim dizer que é quando a necessidade e a dor batem a porta e se esgotam todos os recursos técnicos que nos seres humanos acordam os videntes, os mágicos, os curadores, aqueles que rezam e suplicam sem saber direito a quem.
Os seres humanos procuram na maioria dos casos magia como meio de se conseguir harmonia íntima, esperanças de ordens sociais fraternas e justas, promessas de paz não só individual assim como em grupo, além da mais sonhada harmonia com a natureza. Detém-se assim que as mesmas perguntas que eram feitas em um passado não muito distante reaparecem hoje, travestidas por meio de símbolos secularizados.
De acordo com Marcel Mauss, a magia tem por função controlar, orientar e explicar a ordem das relações sociais que ocorre entre um suposto grupo, uma vez que esta deve ser compreendida como uma realidade a partir das representações coletivas que a definem num determinado contexto particular. Com isso quero dizer que a magia se processa através de relações simbólicas que são sempre afirmadas como construções coletivas.
Uma ação individual, já diria Durkheim, só ganha sentido no conjunto mais amplo da vida social, uma vez que o pensamento mágico entendido como um sistema simbólico nos leva a compreensão de como os indivíduos de determinado grupo pensam e como eles compreendem a si mesmos. Assim, para compreender um ato mágico é preciso primeiro conhecer a organização social que a criou, não se levando em consideração apenas às consciências particulares.
 A magia por mais isolada que seja não é considerado um ato individual, por simplesmente deduzir que o individuo age sempre de acordo com as crenças e tradições de seu grupo. Não basta um gesto, uma palavra ou a manipulação técnica da natureza para que ela se realize, é necessária que esta esteja compartilhada entre os membros da sociedade, desta maneira a magia para se tornar um meio eficaz necessita de um sistema de crenças coletivo.
Para Lévi-Strauss, a eficácia da magia atua através de símbolos que fazem sentido para um determinado grupo, pois seu valor não esta na ocorrência de curas reais mais no sentido de segurança trazido ao grupo através do mito que fundamenta a cura. Assim, por mais que certo tipo de magia não alcance o resultado esperado ainda sim a crença nela continuara a existir por ser uma crença coletiva.
Como exemplos têm a história de Quesalid, individuo pertencente ao grupo indígena Kwakiuti, localizada no Canadá. Segundo Franz Boas, conta à história que o referido jovem não acreditava nos poderes mágicos dos feiticeiros do grupo. Para desmascarar aquilo que para ele era falso e ilusório, tornou-se um aprendiz e passou por todos os tipos de iniciação para se tornar um feiticeiro.
Durante esse período Quesalid, desvendou todos os truques que os mestres, considerados por ele como charlatões, utilizavam na cura de enfermidades, como exemplo, temos as técnicas de simulação de crises nervosas e desmaios.
Longe de o jovem conseguir desmascarar os feiticeiros de seu grupo este passou a ser considerado como um deles. Certo dia foi chamado para curar um doente que sonhou com ele como seu salvador, para seu espanto a cura ocorreu como um grande sucesso, o que o levo com o tempo a ser considerado e reconhecido como um grande feiticeiro. O que Quesalid não entendia é que como uma mágica considerada falsa era realizada com grandes resultados por ele e por outra pessoa não.
A eficácia simbólica neste caso atua devido a três tipos de experiência: a do xamã, a do paciente e a do público. As ações de Quesalid estavam pautadas na crença coletiva existente no grupo a qual pertencia. É fundamental saber que o poder envolto nos xamãs ou em alguém que pratique algum tipo de magia, encontra-se na capacidade que este tem de trazer em torno de si o consenso coletivo, mantendo vivo o quadro de representações simbólicas que explicam determinados acontecimentos.
O que nos surpreende muito nos dias atuais é o fato de que como os grupos mais harmônicos da sociedade, que estão estreitamente ligados ao fator da modernidade, pessoas com nível de escolaridade acima da média nacional, consumidora dos vários bens disponíveis na modernidade, articulam uma nova visão de mundo, procurando integrar á racionalidade objetiva da ciência a um pensamento mágico e intuitivo.
O que os autores clássicos, tais como Lévi-Strauss, Emile Durkheim, Marcel Mauss, Malinowski, entre outros, nos sugerem que este, individuo inserido no meio social tende a se insatisfazer diante da ciência, asséptica, fria e determinista que exclui os desejos e anseios da subjetividade.
Assim, por mais que a ciência exista e tenha suas verdades refutadas a todo o momento, a magia continuará a existir através de um principio confirmatório. Silas Guerreiro afirma, que uma vez aceita as premissas básicas da magia, nada poderá abalar a fé do participante que crê nela, pois tudo pode ser explicado no interior desse sistema.
Por fim, as pessoas podem ser céticas em relação a um determinado tipo de magia, a um oráculo, por exemplo, mas nunca serão céticas quanto ao conjunto da magia, ou dos oráculos, em geral.



  
3.         A VIVÊNCIA MÁGICA NO COTIDIANO.

É comum ao andar pelo bairro do Telégrafo, ou melhor, na passagem Izabel, Alameda Maria da Luz, local onde foi realizada a pesquisa que se desenvolve nesse trabalho, presenciar a inocência das crianças brincando em grupos, na mesma é forte a presença de pessoas idosas, o que basicamente vem a auxiliar as práticas de algumas crendices não só nessa passagem, nessa pequena comunidade, mas cremos que em todo o bairro.
É possível com um pouco de paciência, visualizar crianças pela rua entoando velhas cantigas de roda e rabiscando o chão da rua com desenhos de sol para evitar a chuva e a lua para que chegue logo à noite e outros tipos de brincadeiras possam se desenvolver sem problema dos pais determinarem que ainda não fosse hora de tal brincadeira.
Assim como as crianças citadas a cima, alguns adultos aderem também um pouco desse mundo misterioso onde, basta usar um objeto de forma certa para que algum tipo de magia possa dar certo, a exemplo disso estão algumas moças que ao saber que seu namorado virá lhes ver e à possível previsão de chuva, sempre tem uma que recorre ao truque de trancar a chuva em um copo para a qual só cair depois que seu namorado for embora ou mesmo quando essa já satisfez seu desejo material.
Também a casos de pessoas que nunca acreditaram nessas crendices, porém de tanto ouvir passaram a praticar, acreditar e essas começaram a funcionar, outro exemplo clássico de uma pequena mágica seria aquela que se utiliza para apressar a visita de alguém em nossa casa. Ora, quantas vezes as pessoas não estavam interessadas em receber ninguém e justo nessa hora surge uma amiga, um colega, uma vizinha ou mesmo um parente seu, e então, o que você faz? Simples recorre à magia ora.



4.1   As pequenas mágicas populares.

A medida de pegar a vassoura e colocar atrás da porta para que a visita indesejada não se prolongue tanto não deixa de ser uma pequena magia, e assim como essa existem muitas outras que ainda devem estar guardadas como o bem mais precioso de alguém por que todas essas mágicas na realidade são repassadas basicamente por uma pessoa mais velha, e guardar esse conhecimento é guardar também um pouco daquela pessoa consigo.
Existem outros casos como, perguntar para um fósforo preso aos dedos enquanto sua chama se apaga se certa pessoa gosta realmente de você para sim ou para não é simples, basta verificar para qual lado cai a parte enegrecida do palito, se for para dentro da mão então a pessoa amada gosta de verdade de você, se for para o lado de fora da mão então quer dizer que a pessoa amada ou não gosta ou ainda tem dúvidas em relação a você.
Para que todo o tipo de magia possa realmente ter progresso é necessário que a pessoa acredite no que está fazendo por que a magia é uma ciência própria do homem, nasceu com ele, faz parte dele mesmo que esse acredite atualmente nos caminhos da ciência, magia não é somente aquela em que é necessário ter velas espalhadas pelo ambiente, espelhos imponentes para que as energias possam fluir de maneira mais rápida, barbantes, incensos para purificação ou badulaques [16]próprios de magos ou pessoas que se consideram assim por apenas serem mediadores da magia, quando apenas agentes que fazem da magia uma fonte de renda e sustento próprio.
A magia está presente no cotidiano de cada indivíduo social, ou seja, a magia se faz presente na vida do homem no momento em que se relaciona socialmente, desde sua origem o homem tem característica de um ser bio- psico- social.
Freud vem dizer eu o homem é um ser que se relaciona e faz de suas relações com o outro algo que possa vir a beneficiá-lo em breve, por que o homem é o tipo de ser que vive a realidade visualizando sempre o futuro, sendo esse o grande erro dos sistemas sociais já que o homem é na realidade um ser condicionado a viver em sistemas fechados, buscando se libertar por meio do mundo ilusório e fantasioso da magia.
Segundo Geertz, o homem utiliza os símbolos como um meio de simplificar e decodificar o mundo em que vive por isso a maior parte das pessoas usa objetos simples do dia- a- dia e atribuem a esse um caráter mágico próprio a cada necessidade a qual se esteja recorrendo.
Algumas magias pequenas mais utilizadas são as que precisam de objetos dotados como elementos mágicos para a concretização da magia em si, como Geertz trata em seus estudos, já que a maior parte desse foi relacionado com os grupos de uma sociedade e seus meios de se relacionar com o sagrado envolvendo magia no mesmo.



4.2.  A classificação das pequenas mágicas.

Na nossa rica cultura amazônica e também paraense, essas pequenas mágicas estão classificadas como simples crendices populares e estão se perdendo na medida em que a tecnologia evolui e crianças podem passar o dia todo em frente a uma tela de computador jogando jogos eletrônicos, curtindo musicas por meio de mp3 play e outros tipos de modernidade que torna essas crianças em mini adultos individualistas, preparados para encarar a sociedade e os problemas da mesma da maneira mais racional possível.
As brincadeiras que aproxima a todos em um momento divertido e descontraído estão se perdendo, as crianças já não sabem quais são as cantigas de roda para cantar, não conhecem as técnicas das pequenas mágicas usadas pelos mais velhos para que pudessem controlar a natureza ao seu favor, pelo menos é o que se acredita, que ao fazer qualquer tipo de magia a natureza estará se voltando ao seu favor.  
Poucas são as pessoas hoje que ainda acreditam e praticam essas crendices, como são definidas as pequenas mágicas pela sociedade, por que está cada vez mais difícil acreditar em algo que tem probabilidades de funcionar ou não de que algo tão objetivo como a metereologia que indica precisamente quando vai chover ou fizer sol, se vai ficar nublado ou o vento vai ser forte.
Apesar de tudo isso a magia sobrevive, assim como o homem e enquanto esse existir então há uma esperança de que as pessoas percebam que respiram magia, que essa se espalha pelo ar, sai através dos poros e instiga o homem a desvendar mistérios e questionar as razões de ser e viver, os grandes questionamentos da humanidade.



4.2.1. O copo e a chuva.

 O copo utilizado para prender a chuva é um copo como qualquer outro que também serve para beber água, suco e outros tipos de líquidos e após o uso do mesmo na realização da magia, esse pode ser usado normalmente.
Para parar de chover é necessário um copo, não importando o tamanho do mesmo, um pires, que tenha a proporção um pouco maior que o copo para que esse fique fixado no centro do pires, uma pitada de sal e uma pequena quantidade de água.
O copo deve ser emborcado no pires com a pequena quantidade de água dentro do mesmo, esse processo deve ser feito rapidamente para que a água não vaze, em seguida deve ser colocada uma pitada de sal em cima do copo para que a chuva perca aos poucos sua intensidade.


·                       Análise da mágica:
É tido como mágica os pequenos atos que nos beneficiam e que tornam os nossos dias um pouco mais fantásticos, ou seja, resgata o que o homem tem dentro de si. É claro que trazer o que as pessoas possuem de mágico no seu íntimo, para a realidade da sociedade, é muito complicado devido à incredibilidade dessas pessoas quando adquirem o conhecimento científico.
Esse tipo de mágica como todas as outras que são praticadas, se dá através da necessidade de cada pessoa, por isso, é normal que esse “feitiço” seja principalmente por mulheres. Já que através da história as mulheres estão em permanente contato com a natureza, ou seja, com os elementos naturais e a magia como um vasto leque de fenômenos que vão contribuir para a ligação do homem com o cosmo.[17]
Existem vários tipos de mágica que praticamos sem nos darmos conta, e todas são realizadas com o único objetivo de controlar ou até mesmo descomplicar algumas situações. Logo, a mágica do copo que foi citada só tem credibilidade quando a chuva cessa realmente ou diminui sua intensidade.
A mágica do copo é praticada desde a infância das pessoas, porém essa se intensifica quando o indivíduo atinge a fase adulta, pois, nesse período da vida as pessoas buscam cada vez mais realizar pequenos caprichos, mas infelizmente as mágicas são utilizadas para tal. Contudo, isso não implica em dizer que as mágicas são apenas importantes quando se deseja algo e sim quando surge a ocasião de adquirir algo que seja a parte que faltava para a concretização de algo material.



4.2.2. Uma vassoura atrás da porta

A vassoura usada para esse tipo de magia é a mesma que se usa para varrer o chão da casa, pois quanto mais comum for o elemento, mais forte será a magia por que segundo os magos os objetos mais comuns é que estão dotados da natureza pura, ou seja, praticamente não foi alterado para um fim de maior lucro.
Para a realização dessa mágica é necessário primeiramente colocar a vassoura atrás da porta no sentido contrário para que a visita indesejada possa ir embora, ou melhor, no sentido usado pelas que usam essa magia a pessoa é realmente varrida da casa do indivíduo que fez a magia. O obvio da situação é que essa magia não necessita de palavras de poder, de outros objetos como fontes catalisadoras de energias só são necessárias se a pessoa tenha fé, ou melhor, que essa tenha crença no que está fazendo por que a partir do momento em que se inicia uma magia essa vai acontecer para a pessoa ainda que a mesma tenha desistido da idéia.


·         Análise da mágica:
O cotidiano do homem é marcado por tradições, crendices e pequenas mágicas, as quais se tornam concretas no momento em que alguém lhes adquire veracidade, ou seja, quando a pessoa acredita na possibilidade de transfiguração de determinados elementos como os mais simples, ora uma pedra não deixará de ser uma pedra, pois essa é o que é, porém no momento em que para uma pessoa essa é um pequeno totem[18], então esse ficará dotado de poder mágico a ele atribuído.
No caso da vassoura, o simples fato de colocá-la atrás da porta não implica dizer que a visita indesejada realmente irá embora, mesmo por que essa situação é apenas uma sugestão que também pode falhar, ora, nem toda magia é 100% verdade, pois sempre ficam as lacunas da subjetividade as quais a ciência ainda não foi capaz de decifrar.
Então para todo o tipo de dúvida que possa ter surgido, a vassoura utilizada não passa de um objeto comum e inanimado, e que aos olhos de todos tem serventia somente para a limpeza de ambientes. Contudo, a partir do momento em que a pessoa passa a acreditar que essa é capaz de mandar alguém embora, esse mesmo objeto adquire um poder surpreendente de mudar a ordem natural de determinados fatos.
Como o homem está sempre buscando encontrar um meio, uma solução, uma saída para a resolução de seus problemas da maneira mais fácil possível, ou seja, sempre buscando alternativas das mais variadas com o intuito de viver tranquilamente sem o receio de que problemas futuros possam ser resolvidos antes de se concretizarem.



4.2.3. O caroço de cupuaçu:

Nesse tipo de magia, até o caroço de uma fruta pode ser utilizado como elemento mágico, o que nos prova novamente que não são necessários objetos específicos e elementos extraordinários para que a magia possa ocorrer.
Para a realização da magia com o caroço de cupuaçu é necessário possuir um ou mais caroços dependendo do número de perguntas que se queira fazer, as perguntas atribuídas a esse caroço deve ter como resposta apenas sim ou não. Pois do contrário, não seria uma simples magia e sim uma predição de algo que aconteceu ou que poderia acontecer, e a esse tipo de magia são atribuídos os consultórios urbanos com consulta de cartas e outros meios também.
Primeiramente, imagina-se a pergunta a ser feita, enquanto o caroço está sendo saboreado pelo dono do pedido; então, após o término do pedido esse toma distância e lança o caroço na parede o mais longe possível e se esse ficar preso, grudado na parede é sinal de que a resposta para a pergunta será sim, porém se o caroço não fixar na parede caindo logo em seguida é sinal de que a resposta para a pergunta será não.


·                     Análise da mágica:
Esse tipo de magia feita com o caroço do cupuaçu é destinado para questões do coração já que existe um vasto leque de magias para cada tipo de sentimento e situação, cada uma com “poder” para resolver aquele determinado tipo problema.
É como se as mágicas fossem como os remédios comprados para a cura de alguma doença, o exemplo é que um remédio destinado para garganta não iria ter o mesmo efeito se ingerido para um problema intestinal.
A magia é tida para quem pratica nesse patamar, pois, uma magia para o bem material não é a mesma para o bem sentimental, portanto surge mais forte a crença de que aquela determinada magia realmente vai funcionar.
É comum quando queremos saber se alguém gosta da gente, sairmos perguntando se é verdade que um rapaz está interessado por essa pessoa, sendo que perguntar assuntos pessoais se torna inconveniente já que as questões de sentimento sempre têm relação com ligações afetivas.
Em meio a essa questão surge como uma possível alternativa ou mesmo como solução, a crença de que um simples caroço retirado do cupuaçu possa nos responder se a pessoa a qual amamos está nos correspondendo ou não. Porém, será que tal fato é realmente possível?
Para que qualquer crendice ou até essas pequenas mágicas que praticamos no cotidiano, só adquire significado a partir da credibilidade que lhe confere cada pessoa. Desse modo, toda e qualquer mágica que praticamos só se tornará verdadeira se as pessoas acreditam que essa é real e o que foi solicitado se concretizará.



4.2.4. Uma boneca para passear:

Para a realização dessa magia não é necessário nada mais que um pouco de imaginação e criatividade de modo que tudo possa ocorrer do jeito previsto pela pessoa responsável para a concretização da magia, ou seja, é necessário gostar de trabalhar com papel e tesouras para ser mais exata, a pessoa que recorre a essa magia tem de querer bastante o que se foi desejado, pois essa magia não funciona se não cumprida até o final.
Primeiramente é preciso ter em mãos uma folha de papel em branco onde possa ser desenhada nesse a figura de uma boneca, a mesma tem de ser desenhada no centro do papel, em seguida a pessoa tem que recortar a boneca do papel e enquanto essa é recortada deve ter na mente o seguinte pedido “Maria, Maria, se tu fizeres passar a chuva te levo para passear”.
A boneca que fará a chuva passar deve ser afixada atrás da porta enquanto estiver chovendo ainda, logo que a chuva termine a boneca deve ser retirada de trás da porta, pode ser dobrada e guardada na bolsa, dentro do bolso ou até mesmo na mão da pessoa que solicitou a magia; o importante é que a Maria seja levada para passear.
Segundo pessoas que já realizaram essa magia deixaram claro que se a boneca não for levada para passear a chuva apenas perde a sua intensidade, ou seja, a chuva não cessa ao contrário apenas dá uma trégua e quando a pessoa menos espera retorna e com muito mais fúria que dá ultima vez em que caíra.
O que prova que não importa qual o tipo de magia a pessoa utilize, essa deve ser levada a sério, pois são elementos da natureza que o homem está tentando controlar e para isso é necessário uma carga intensa de responsabilidade para com o compromisso que se está estabelecendo.


·                       Análise da mágica:
A magia da boneca citada à cima é uma das mais utilizadas depois do copo para prender a chuva, sendo que essa é praticada principalmente por mulheres, pois são elas as que mais recorrem a artifícios mágicos com o intuito de conseguir algo tão desejado.
Talvez por sua origem pagã e evidenciada desde o inicio de sua utilização pelas mulheres, a magia já foi atribuída como um ato especificamente feminino e isso tudo por que o mundo feminino compreende a vertente mística da sociedade, ou seja, a mulher trás consigo todo o mistério que existe em relação a seu caráter.
A maior parte das práticas mágicas que são realizadas no cotidiano das pessoas sempre tem alguma relação com a natureza, ou seja, as magias têm como objetivo comum ou dominar a natureza ou então o sentimento de uma pessoa ou mesmo conseguir de vez o coração da pessoa amada.
Cada indivíduo dá credibilidade ao tipo de prática que esse acredita ou mesmo que tem acesso, por isso que as mágicas são próprias de cada indivíduo o que torna quase impossível que a pessoa que pratica a mágica não acredite em sua eficácia, ora toda a pessoa que realiza algum tipo de prática mágica irá garantir para quem perguntar que sua magia realmente funciona, esse é o tipo de crença que cada um possui em algo místico, fantasioso, ou ainda sobrenatural no sentido próprio da palavra.
De todas as magias pesquisadas neste trabalho, essa parece ser dentre todas as outras a que as pessoas atribuem uma maior carga de responsabilidade devido o fato de nessa se fazer presente um elemento mágico o qual seria a boneca, e também o fato de prometer um passeio para a boneca se torna uma promessa que tem de ser cumprida senão toda a magia e toda a concentração empregada na mesma não surtirão efeito nenhum.



4.2.5. Um toque na terra:

O tão inocente ato de desenhar na terra ou simplesmente tocar a mesma na medida em que uma forma passa a se desenvolver com toda a certeza aquela criança está naquele momento desenvolvendo um ato mágico. Então, fica claro a magia acontece mais naturalmente para as crianças de que para os adultos.
Na verdade a magia de tocar o chão pelas crianças se divide em três, e a primeira delas é o ato de desenhar um sol no chão, grande e com raios bem maiores que o próprio sol, esse sol pode ser desenhado com giz branco ou colorido, carvão, restos de tijolo de construção e outros.
O desenho do sol para as crianças tem o poder de mandar as nuvens de chuva para bem longe ainda que essa esteja começando a ameaçar cair, por que essa poderia acabar com a brincadeira das crianças. Logo, o desenho seria uma forma de evocação para o sol de modo que esse perceba que está sendo solicitado e a chuva se vá para bem longe ao perceber que não é bem vinda.
Outra magia de tocar o chão é feita a partir da noite e parece ter o mesmo fim que a magia para o sol, a diferença está em desenhar a lua à tarde sempre por volta de quase seis horas da noite fará que essa seja enluarada e assim as brincadeiras possam fluir tranquilamente, como essa magia é feita quase a noite nela é utilizada terra para desenhar ou água.
A chuva também pode ser evocada se em vez de desenhar um sol ou uma lua esse desenho seja de uma nuvem com gotas de chuva saindo dela, nessa mágica é preciso ter em mãos qualquer tipo de material que deixe sua impressão no chão, pois de outra forma não apareceria o símbolo e a magia não aconteceria.


·         Análise da mágica:
Essa mágica cotidiana encontrada na vivência das crianças é a forma mais simples de expressar magia realmente nas pequenas atitudes dessas, pois é comum as crianças acharem algum artifício para driblar algo que possa vir a incomodar seu lazer.
Assim como os adultos recorrem às mágicas a fim de resolver assuntos, situações, e outras ocasiões que possam não ter solução no mesmo dia ou na mesma hora, esses fazem uso da magia buscando uma saída mágica para seus problemas. Logo, para um adulto a magia só funciona para seu bem comum, ou seja, se essa for utilizada de modo que possa servir para o homem; então, essa deve ter sua importância para a vida das pessoas.
Para o universo infantil, a importância de conhecer um meio mágico seria o mesmo que possuir um pote do mais gostoso dos doces e sabendo que todos irão querer, prefere guardar e repartir com os outros em pequenos pedaços.
É bem mais fácil ver uma criança brincando de desenhar no chão um sol, uma lua, nuvens de chuva, ou pedindo para a mãe fazer uma boneca e colocar atrás da porta para ter o prazer de passear com a mesma na rua, de que uma pessoa adulta que possivelmente irá lembrar-se da magia que fez e se essa não funcionar perde logo a credulidade.
Uma criança por outro lado vai atribuir a falha da magia em alguém que a atrapalhou enquanto se concentrava, ou um colega que ficou falando, a mãe que não atendeu ao pedido na hora em que chamou e assim vai desenrolar sua enorme lista de quem tem culpa e quem não tem.
As mágicas que são praticadas em nosso cotidiano são muitas, porém não teria como comentar todas; então, é melhor que sejam evidenciadas aquelas que um dia já praticamos de alguma forma ou simplesmente ouvimos falar por uma pessoa conhecida, por que o mais importante é o modo como as pessoas vêm essas mágicas e como pretendem perpassar essas para os seus filhos.
Essas mágicas estão presentes de modo mais forte nas periferias da cidade, pois a camada pobre da sociedade que possui poucos recursos, quando não conseguem resolver seus problemas da maneira racional, o jeito é ter alguma saída em que se agarrar para que o problema mesmo que esteja no mesmo patamar parece aos olhos de quem solicitou esse meio previamente resolvido.
 Não que a magia não seja eficaz, porém é como já foi dito, a magia só surtirá efeito dependendo da crença atribuída pela pessoa que a utiliza em sua vida, dependente de ter praticado um ato mágico antes ou não; sempre há uma primeira vez mesmo no campo da magia essa ciência própria do homem.
A magia nasce com o homem, basta que esse exponha o seu lado mágico, mítico, fantasioso e místico para fora e passe a compreender que todas as coisas mesmo na natureza são regidas por um toque de magia, seja no simples desabrochar de uma flor, ou os refrescantes pingos da chuva a molhar a face, ou ainda transformar a natureza a seu favor e tentar dominá-la por um segundo que seja.
  



5.      REFERÊNCIAS
ALVES, Rubem. A religião dos Oprimidos, As flores sobre as correntes, A voz do desejo.  In: O que é religião?  Ed. Loyola São Paulo-SP. 2000. P.
CARLOIS, Roger. O homem e o sagrado. Ed. Perspectivas do homem. Edição 70.
CUNNINGHAM, Scott. Magia Natural: Rituais e Elementos da Tradição Mágica. 3ª Edição, Ed. Gaia, São Paulo-SP-2002.
DOUCET, W. Friedrich. O livro de ouro das ciências ocultas: Magia-Alquimia-Ocultismo. Ed. Ediouro. São Paulo-SP.
DURKHEIM, Émile. As crenças propriamente totêmicas. In: As formas elementares da vida religiosa. Ed. Martins Fontes. São Paulo-SP. 2000. P. 95-121.
EVANS-PRITCHARD, Edward Evan. Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.
GUERREIRO, Silas. A Magia Existe? Ed. Paulus, São Paulo-SP-2000.
MALINOWSKI, Bronislaw. Magia, Ciência e Religião. Ed. Perspectivas do Homem, Lisboa-Portugal-1974.
NOGUEIRA, Carlos Roberto Figueiredo. Bruxaria e história: as práticas mágicas no ocidente cristão. Bauru-SP: EDUSC, 2004.
TRINDADE, Liana. Magia e Conflito. Ed. Hucitec, São Paulo-SP-2000. 





[1] Homem que utiliza a magia para todos os fins;
[2] Prática ritualística destinada ao uso de plantas para um fim mágico;
[3] Homem primitivo que utilizava a mistura de terra e outros condimentos para produzir desenhos,foi considerado o 1º artista da pré- história.
[4] A essência que o homem trás dentro de si.
[5] Definição de todas as práticas mágicas realizadas pelas pessoas sem o conhecimento da igreja;
[6] Comissão de autoridades da igreja responsáveis de julgar se um indivíduo era herege ou não.
[7] Religião praticada por pessoas que moravam em campos deu origem a Wicca.
[8] Crença que originou a maior parte das religiões, uma destas seria o Cristianismo.
[9] A arte de adivinhar por meio de técnicas.
[10] Dar razões lógicas para um mito, lenda ou crença popular.
[11] Totem é a definição dada a um objeto transfigurado por poder mágico tido como um elemento sagrado para um devido grupo religioso.
[12] Esse é adquirido quando a pessoa usa a ciência para embasar suas idéias.
[13] Esse é o conhecimento popular que cada indivíduo trás consigo.
[14] Disfarçar de modo a confundir-se com o ambiente.
[15] Validar ou dar significado a um objeto simbólico de modo que este seja reconhecido como algo verdadeiro.
[16] Pertences adquiridos por uma pessoa, sem valor real, seria uma espécie de relíquia de valor sentimental somente para a pessoa que o tem e utilizado muitas vezes como um elemento mágico de grande importância ritual. 
[17] Entenda-se aqui o cosmo como o universo, o todo, ou seja, o cotidiano de cada pessoa.
[18] Objeto transfigurado como elemento mágico, ou seja, uma das fontes utilizadas para a relação com a divindade.

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