quarta-feira, 2 de março de 2011

A religião na Nova era

A nova era: A pajelança urbana na atualidade
Erineia Oliveira

1.  
Desde a concretização da nova era como um movimento que agrupa as características das religiões antigas e as atuais no mesmo sistema social, essa tem por objetivo o resgate de antigos padrões presentes na sociedade como a questão da cura que se faz presente dentro das grandes religiões, principalmente nas consideradas religiões de salvação como o caso da grande raiz cristã onde, o homem professa a sua fé a partir da crença em que algo suprahumano, ou seja, um ser que ultrapassa as noções de tempo e matéria comanda sua vida de forma protetora auxiliando a mesma como um mediador de seus atos para que esse possa caminhar utilizando a razão e a fé no mesmo patamar.
Para que esse ser supremo passe a determinar o tempo certo para cada fato ocorrido na vida desse indivíduo é necessário que o mesmo tenha fé, ou melhor, tenha crença total na prática que está sendo utilizada pelo grupo ou vertente religiosa própria desse. Assim, toda e qualquer religião que aborde a questão da cura e que se faça presente a todos o êxtase religioso é considerada um elo com esse ser ou divindade.
Para os seguidores das consideradas religiões da floresta percebe-se principalmente as religiões do Santo Daime, Pajelança Cabocla e Xamanismo Amazônico que por atuarem no lado do conhecimento empírico do homem essas religiões possuem a maior procura de pessoas, por que quanto mais próxima da realidade das pessoas mais procurada será essa.
Na atualidade, é comum presenciarmos a procura intensa das pessoas por algo que satisfaça suas necessidades, uma dessas coisas a que as pessoas recorrem é a religião a grande teia de significados capaz de trazer ao homem a realização de seus desejos, sejam eles materiais ou espirituais. A exemplo de outras religiões sempre se faz necessário e também primordial a presença de uma pessoa com mais conhecimento para tornar possível essa busca ou esse intermédio do homem e o sagrado, seja ele coletivo comum ou próprio daquele indivíduo. 
O xamanismo, se analisado través da vertente da nova era é considerada uma religião capaz de fazer o homem entrar em contato com o além, o exemplo utilizado para essa definição conceitual além da cura por meio da utilização de infusões de ervas, beberagens que auxiliam o contato com os caruanas[1], a utilização do corpo do pajé servindo como instrumento para o contato com a divindade tem também a questão do êxtase religioso ao qual somente o xamã tem conhecimento e somente seu aprendiz poderá conhecer em um momento preciso.
O xamã é uma pessoa comum como qualquer outra apesar de na maioria das vezes não querer se compromissar com a missão de ser xamã, pois existe uma carga extrema de responsabilidade nessa devido à preparação a que esse deve passar, um xamã é também considerado como um curandeiro, pois deve adquirir o conhecimento da floresta, ou seja, ele é treinado e preparado para lidar com as ervas, raízes e folhas da floresta.
O xamã logo no inicio de sua missão esse fica cometido de doença que pode ser através de caruanas, ou o espírito dos antepassados se a pessoa escolhido para ser xamã possua essa função desde seu nascimento.
Existem casos de xamãs que foram escolhidos por caruanas ou espíritos de antepassados ou ancestrais mesmo não tendo o dom para essa missão, esses são os xamãs por simpatia, ou seja, são aqueles que se tornaram queridos pelos espíritos e assim possuíram o dom divino de curar por meio de espíritos os maus materiais e espirituais que as pessoas possam ser acometidas.
A doença a que o xamã é acometido se faz necessária para que esse possa ter abertura[2] espiritual em seu corpo, ou seja, a doença serve como o teste para avaliar a resistência de seu corpo e para saber se o mesmo tem capacidade de comportar uma aura maior e mais pesada que a do próprio xamã. É também por esse que o xamã está mais aberto a adquirir todo o tipo de mau que possa acometer seu corpo e seu espírito, é normal que o xamã esteja sempre se purificando devido à grande carga de energia negativa que esse recebe ao término de cada trabalho de cura que realiza.
Existem xamãs que são realmente preparados e outros que não possuem muito preparo e é por isso que os espíritos têm por obrigação, preparar os xamãs escolhidos.
Os escolhidos devem permanecer em total isolamento, apenas tendo contato com o xamã que tem permissão pelos caruanas para auxiliar no preparo desse, durante esse longo período o escolhido deve comer e beber apenas o que lhe for preparado e fumar um cigarro de tauarí[3] preparado para o mesmo.
Se o futuro xamã perpassar por todo esse caminho sem desistir em nenhum momento; então ali está um homem digno de se tornar um autêntico curandeiro, um homem bem feitor da natureza, uma pessoa que utilizará a floresta sem alterar sua biodiversidade.
Uma nova vertente do xamanismo surge nos dias atuais, considerado neo- xamanismo que não está tão obstante do xamanismo tradicional, porém a grande diferença é que o xamanismo tradicional, só é perceptível dentro das tribos ou grupos primitivos, enquanto o novo xamanismo é visível em casas de cura dentro dos grandes centros urbanos, em periferias, e nos interiores sob a nova roupagem de pajelança urbana.

2.    A pajelança urbana:
A pajelança urbana encontra-se no campo do misticismo[4] presente dentro do neo- xamanismo, ou seja, a pajelança faz parte de um vasto leque da religiosidade popular onde, cada indivíduo busca compreender de que modo esse irá se relacionar com a divindade, como vai ocorrer essa relação, quando e a partir de que momento o homem terá a certeza de que está sendo realmente correspondido pelo ser divino.
Na pajelança é notável a utilização de ervas e raízes para auxiliar a cura de algum mau que o homem adquire por meio da vida que leva ou a soma de estresse que esse trás ao longo de seus atos. A importância da pajelança está na busca constante de curar as dificuldades da vida, as doenças do corpo e transmitir a salvação para as pessoas, na realidade esse conceito de salvação serve como sendo um consolo, um meio de fazer com que as pessoas tenham alguma crença de que após todo o sofrimento passado na sua vida haverá um também o conforto de não possuir nada mais a não ser a tranqüilidade.


3.    Uma casa de cura na periferia de Belém:
A casa de cura de pajelança abordada na pesquisa possui uma vasta história e para conhecer essa foi necessário conversar com os moradores da casa, pois o espaço da casa utilizada para as seções de cura era da tia das pessoas que moram hoje na casa, a pajé dessa residência era conhecida como Dona Preta.
Como a pajé veio a falecer, foi necessário que todos decidissem o que fazer com as coisas que estavam no local e todos acreditaram que seria melhor que tudo fosse quebrado, porém a Associação Umbandista não autorizou a família a se desfazer dos bens deixados pela velha senhora e determinaram que fosse feito um ritual para retirar a essência dela (Dona Preta) do local, pois de outro modo seria impossível que outro pajé trabalhasse devido à forte presença espiritual dela no espaço.
Hoje um novo pajé atua no local, e foi com ele que realizamos nossa entrevista, as seções que esse realiza são na realidade uma mescla de seção espírita, trabalho umbandistico e seção de cura de pajelança. A semelhança, por exemplo, com um trabalho umbandistico está na presença dos cânticos e evocações para os encantados, a presença do espiritismo está no intermédio com os espíritos, ou seja, na comunicação com os mesmos por meio da cerimônia considerada como “mesa branca” onde, são feitas orações para que os espíritos possam se comunicar com as pessoas ali presentes.
A pajelança em si só toma corpo quase ao término da seção, quando o pajé evoca um caruana, encantado do fundo para realizar a cura de algum doente que acompanhou toda a seção.
O pajé que trabalha agora nesse local de cura, ou nessa casa de cura nos relatou que sempre trabalhou a pajelança própria da cidade, ou seja, mesclando os conhecimentos das religiões a cima para que a ligação com o divino fosse mais completa e mais esse intitula a pajelança no campo da modernidade por que tem consciência de que não há outros pajés que trabalhem do mesmo jeito que ele.
A pajelança que Dona Preta trabalhava era aquela pajelança cabocla, aquela que só há seção de cura, beberagem e fumo de tauarí para fazer a ligação com os caruanas e encantados e proceder na realização das curas.
Apesar da diferença entre os dois tipos de pajelança trabalhada os mesmos possuem objetivos iguais que são: proporcionar a cura das pessoas por meio dos benefícios da floresta, estabelecer o contato com os caruanas para que esses continuem desempenhando o trabalho de protetores dos indivíduos, abrirem os olhos do homem para que esse perceba que a religião do futuro será mística, ou seja, a religiosidade é que vai mostrar ao homem que caminho deve seguir.


[1] Espíritos responsáveis de fazer a ligação entre o homem e a divindade.
[2] Seria a abertura da aura espiritual para que essa suporte o peso da aura de todos os espíritos que esse possa receber.
[3] Cigarro feito a partir de folhas utilizado pelos pajés para facilitar o contato com o divino.
[4] Estado espiritual de união com o divino, religiosidade profunda do homem.

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